Muita arte na rede Ello. Visualize:

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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Entrevista sobre o livro CONSUBSTANTDJETIVOS COMUNS, entremeada por música de Jorge Drexler, para a rádio WEB "O Timoneiro"



Estação Cultural – 19/11/2015


http://otimoneiro.com.br/estacao-cultural-19112015/



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O ROSTO DE MUITAS MÁSCARAS DE RICARDO PORTUGAL

O ROSTO DE MUITAS MÁSCARAS DE RICARDO PORTUGAL

um bom livro de poesia não acontece todo dia
raramente ele pipoca
no mundo underground dos poetas
que vivem como sóis anões
que alimentassem o interior da terra

neste mundo pós-catástrofe de ficção cientificíssima
surge um rosto de muitas faces
a traduzir-se em poemas
Ricardo Portugal este já surgido aos poucos
e há bastante tempo
que cada vez mais insurgido se mostra em seu
“A face de muitos rostos” onde
virulenta cara dada a tapa
ataca a todos os donos do discurso oficial
os muitos 3 poderes da fala
e até aos poetas infiltrados em tais
populações de megafones

por vezes de fato sua poesia atenta a todas os ditames básicos
de Ezra Pound
usa de máscaras não muito duras para proteger o rosto
da chuva de cusparadas que ela faria por merecer
se bem compreendida
se, pois afinal
a boa logopeia mesmo enformada
por um rol de regras extraído de tudo que tornou-se clássico
conforme o arrolado pelo mestre imagista/vorticista supracitado
tal logopeia é sempre difícil de retraduzir-se
por um leitor acostumado às facilidades da vida contemporânea
e “A face” de Ricardo é logopeia rebelde
como bem dirá no posfácio do livro
o poeta-crítico pugilista Ronald Augusto

num discurso uno que não nos deixa dúvida de que a face de um ser único
parte de um todo que só é pleno nas muitas máscaras
portanto não existe senão como ficção
(e aqui nesta obra poderiam embasar-se os defensores de que a poesia é ficção
embora existam muitas obras que demonstrem o contrário)
num discurso uno    eu vinha  demonstrando
uma linguagem esquizofrênica se apresenta     uma mescla
do kitsch em fragmentos de dizeres popularescos de natural distorção fonética da língua oral
com os preciosismos linguísticos que levam Ronald Augusto a lembrar-se do
sempre lembrado nestes casos
Odorico Mendes

é a velha salada tropicalista que mistura o kitsch a vanguarda (tradição da ruptura) e a tradição (que sugere Pound cada um tenha a sua)
de que somos filhos os poetas brasileiros da nossa geração

mas se logopeia     ainda a poesia poundiana de Portugal
não prescinde nunca da regra primeira do mestre
“Atente para o som”

os ritmos da fala embora às vezes envoltos por métrica aparecem
e como no irônico “Visita ao museu”
algo entre cummings, Pound e o ar bufão de Oswald de Andrade
a fala oral comparece sólida mascarada num popular talvez guerrilheiro
entrecortando-se ao dizer
o que é a verdadeira sintaxe da língua falada
um pouco de Guimarães Rosa e Manoel de Barros

enfim há um pouco de tudo que é bom numa poesia onde até Lupicínio Rodrigues é citado desrreconstruído num nível que o músico da dor de cotovelo jamais poderia supor

mostrando que o autor Ricardo vive numa trincheira entre dois mundos
o do rio de sua aldeia e o Tejo
a jovem e já esfacelante Porto Alegre e principalmente a sólida civilização milenar chinesa
sua poesia relembra quase nostálgica uma cidade que já não é a sua
e desenha belas imagens à moda oriental inclusive olfativas
que ficam na memória do leitor
e que dão a Ricardo Portugal a medalha de
poundiano à milionésima de nossa aldeia-mor do sul do Brasil



19 11 2015

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Quadras de Destrinça, de Ronald Augusto. Tradução/traducción ao espanhol/castellano de Adrian'dos Delima.

QUADRAS DE DESTRINÇA

I

o jogo do sarau
sarou o pretito
em parte em parte
depois deste pito

que chupo fundo que
nem um beijo     falo
minúcias que ainda
me ferem o ralo

amor       namorado
da memória-pua
murmúrio de briga
ancestre e nua

II

não tem mais essa de
sumir pelo avesso
pelourinho trocou
de brasão mas preço

seu continua o
mesmo nossa vida
austral doçura ao
luar esculpida

pregada no vento
tua casa sem bossa
cria das senzalas
grita canção nossa

III

arrumo nos lundus
mais lentos as duras
descobertas que fiz
as iluminuras

de dor que por tudo
calculei     quem sabe
nem tanto      tomara
proveitosa agave

tão sem meias setas
e certa e exausta
salvam-se as negras
de tudo que fausta

IV

do feroz fiasco que
é    demonstrar tão-só
adoráveis quadris
pra branco noitibó

demais escambista
com as   coisas de vária
lindeza        coisas que
o tornaram um pária

um duende ciumento
corrigível porém
só que agora   chance
comigo      sai    nem vem    





COPLAS DE DESENREDO

I

el juego del sarao
sanó el pretito
en parte en parte
después de este pito

que chupo hondo cual
fuese un beso     hablo
minucias que aún
me hieren el ralo

amor        ennoviado
con memoria-púa
murmurio de riña
ancestra y nuda

II

e sumir del envés
no más habrá de eso
la picota cambió
blasón pero precio

suyo sigue el
mismo nuestro hado
austral dulzor so
luna esculturado

clavada en el viento
tu casa sin estro
cría de galpones
grita canto nuestro


III

arreglo en los lundus
más lentos las duras
invenciones que hice
las miniaturas

del mal que por todo
calculo       quién sabe
no tanto          tomada
provechosa agave

sin medias saetas
certera y exhausta
se salvan las negras
de todo que fausta  


IV

de la fiera afrenta que
es  demostrar tan sólo
adorables cuadriles
a blanco de trasnochos

por demás truequista
con las  cosas de varia
lindeza     cosas que
lo volvieron un paria

un duende con celos
corregible    empero
sólo que ahora   chance

conmigo   ándate   fuera

Poeta, músico, editor e crítico de poesia. É autor de, entre outros, Homem ao rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de valha (1992), Confissões aplicadas (2004) e No assoalho duro (2007). Dá expediente nos blogs: poesia-pau epoesiacoisanenhuma

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O bosque alto educa as suas árvores, Reiner Kunze, tradução Adrian'dos Delima.

Future for you



Der Hochwald erzieht seine Bäume                                               Reiner Kunze

 Der Hochwald erzieht seine Bäume. 
 Sie des lichtes entwöhnend, zwingt er sie,
 all ihr grün in die kronen zu schicken.
 Die fähigkeit,
 mit allen zweigen zu atmen,
 das talent,
 äste zu haben nur so aus freude,
 verkümmern. 
 Den regen siebt er, vorbeugend
 der leidenschaft des durstes. 
 Er läßt die bäume größer werden
 wipfel an wipfel:
 Keiner sieht mehr als der andere,
 dem wind sagen alle das gleiche: 
 Holz.

...

O bosque alto educa as suas árvores

O bosque alto educa as suas árvores.
Ao abstê-las da luz, as obriga
a mandar todo o verde para a copa.
A capacidade
de respirar com toda ramagem,
o talento
de dar renovos por puro prazer,
se atrofiam.
Peneira a chuva, prevenindo
o martírio da sede.
Faz as árvores crescerem mais altas
topo com topo;
não pode nenhuma ver mais que a outra,
todas ao vento dizem o mesmo:
“madeira”.



Tradução Adrian’dos Delima



Die moderne deutsche Parabel: Entwicklung u. Bedeutung
Autor: Werner Brettschneider

Editora: Erich Schmidt Verlag, Berlim, 1971

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Poema 25 de 73 poems de e.e. cummings, publicação póstuma, de 1963.

Poema 25 de 73 poems de e.e. cummings, publicação póstuma, de 1963.






um rir sem uma
face (um olhar
sem um eu)
seja cuidado

oso (toque na
da) ou vai esfum
ar-se desestrondo

osamente (no doce
da terra) &
ninguém
(incluindo nós

próprios)
vai rele
mbrar
(por 1 frag
mento de
um se
gundo)onde
o que como

quando
quem por que
qual
(ou outra coisa)



Tradução Adrian'dos Delima. 
...

a grin without a 
face (a look 
without an i)
be care
ful (touch noth
ing) or it’ll disapp
ear bangl
essly (into sweet
the earth) &
nobody
(including our
selves) 
will reme
mber
(for 1 frac
tion of
a mo
ment) where
what how
when
who why
which 
(or anything)




de American Poetry : The Twentieth Century, Volume 2 : E.E. Cummings to May Swenson
Library of America, New York City, 20/03/2000.
ISBN-10: 1883011787
ISBN-13: 978-1883011789

por Robert Hass (Compilação), John Hollander (Compilação), Carolyn Kizer (Compilação), Nathaniel Mackey (Compilação), Marjorie Perloff (Compilação)

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O Aardvark, de A Bestiary for My Daughters Mary and Katherine. Kenneth Rexroth. San Francisco: Bern Porter, 1955. Tradução Adrian'dos Delima.

O Aardvark, de A Bestiary for My Daughters Mary and Katherine. Kenneth Rexroth. San Francisco: Bern Porter, 1955. Tradução Adrian'dos Delima.

Aardvark

The man who found the aardvark
Was laughed out of the meeting
Of the Dutch Academy.
Nobody would believe him.
The aardvark had its revenge –
It returned in dreams, in smoke,
In anonymous letters.
One day somebody found out
It was in Hyeronimus
Bosch all the time. From there it
Had sneaked off to Africa.



 Aardvark

O homem que achou o aardvark
Saiu zombado do encontro
Da Academia Holandesa.
Ninguém podia crer nele.
O aardvark teve sua vingança –
Voltou em sonhos, em fumo,
Em cartas anônimas.
Um dia alguém descobriu
Que ele estava em Hyeronimus
Bosch todo o tempo. De onde ele  
Se esquivara para a África.

Tradução Adrian'dos Delima.


de A Bestiary for My Daughters Mary and Katherine. San Francisco: Bern Porter, 1955.

domingo, 12 de abril de 2015

Adriano Nunes: as curvas do caminho para atingir a maestria, por Adrian'dos Delima.



Adriano Nunes: as curvas do caminho para atingir a maestria












li, recentemente, “Antípodas tropicais” e “Laringes de grafite”,
do poeta e tradutor alagoano Adriano Nunes
nesta ordem, a inversa em que foram publicados
e encontrei um excelente poeta que tenderia
a princípio
a fugir de algumas classificações

o pós-moderno, tomado não no sentido do ultramoderno inovador
mas simplesmente no sentido de uma necessária releitura dos clássicos
foi o que vi no primeiro contato
um poeta que se aproximaria da chamada geração brasileira de 45
no que ela tem de mais óbvio
porém
com um acréscimo de resíduos que pareceriam
estes sim
pertencer à poesia moderna mais moderna

lá estão a rima, a métrica, o soneto
nem sempre tão exatos em suas mais rígidas regras
não se está em hipótese alguma diante de um neoparnasianismo

mas também encontramos algumas (des)construções que lembram
a “tortografia” do poeta cummings
mais algum neologismo

ou seja
encontramos entre muito uso de regras antigas
elementos das vanguardas ou do experimentalismo

na minha leitura de trás para diante
encontramos a origem desta mistura de suaves tons vanguardistas
em “Laringes de grafite”
livro que termina, emblematicamente, com um excelente poema oferecido
a Lêdo Ivo, parecendo prefigurar as preferências do segundo
“Antípodas tropicais”

mas algumas páginas antes uma homenagem a Horácio
dá muito melhor o perfil de classicismo de “Laringes”
e
por outro lado
o livro traz traços vanguardistas como os supracitados com
maior visibilidade, radicalidade, e frequência que "Antípodas"

com o seu hábito de homenagear poetas vivos e mortos
não é por nada que vemos poemas oferecidos a
Augusto de Campos, José Paulo Paes, Ferreira Gullar, Caetano Veloso, Régis Bonvicino

o poeta parece aí ajustar-se à fórmula maiakovskiana
de procurar uma linguagem correspondente àquilo que desejamos comunicar
Maiakovski este que não é citado
mas na tradução de um dos irmãos Campos
nos vem à mente
já que o poeta alagoano recorre a um “coração engaiolado” em dado poema

e não pensemos por isso que vamos encontrar um poeta repetido ou repetitivo
pois Adriano Nunes se mostra mais um mestre que um diluidor
na classificação poundiana

e falando nos Campos
prova de mestria de Adriano (e experimental/vanguardista!) é que este consegue
em dado momento, como no poema “ect”
ultrapassar grandes momentos dos maiores ícones da poesia concreta

dito assim, Adriano poderia parecer em sua poesia mais antiga
um poeta alinhado com a segunda onda vanguardista que
tomou conta do Brasil e do mundo depois da II Guerra Mundial
não sendo-o, a não ser em alguns momentos

temos, sem dúvida, em “Laringes de grafite” uma voz moderna
com um espírito jovem e inquiridor à moda avant-garde
mas acima de  tudo, um poeta muito moderno
escrevendo muitas vezes sem maiúsculas, algumas sem pontuação
diferente do poeta de “Antípodas tropicais”
que aparenta mais um precursor da poesia moderna

sendo um excelente livro de poesia, uma leitura válida em
todos os sentidos
“Laringes de grafite” já trazia no seu bojo, no entanto,
o arcabouço básico de formalismo à moda antiga
que será expresso de forma mais insistente em “Antípodas tropicais”,
sendo este arcabouço a característica predominante nas duas obras,
parecendo ser o caminho escolhido pelo poeta daqui por diante


Adrian'dos Delima