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segunda-feira, 19 de março de 2012

Nocturn per a acordió, de Joan Salvat-Papasseit. Tradução Adrian'dos Delima.



 Nocturn per a acordió, em Óssa Menor (livro de 1925, póstumo, do poeta

catalão vanguardista/futurista/visual Joan Salvat-Papasseit,

Barcelona, 1894 –1924)



Nocturn per a Acordió
Ossa Menor (1925)

A Josep Aragay

Heus aquí: jo he guardat fusta al moll.
(Vosaltres no sabeu
                                  què és
                                              
guardar fusta al moll:
però jo he vist la pluja
a barrals
sobre els bots,
i dessota els taulons arraulir-se el preu fet de l'angoixa;
sota els flandes
i els melis,
sota els cedres sagrats.

Quan els mossos d'esquadra espiaven la nit
i la volta del cel era una foradada
sense llums als vagons:
i he fet un foc d'estelles dins la gola del llop.

Vosaltres no sabeu
                                què és
                                            guardar fusta al moll:
però totes les mans de tots els trinxeraires
com una farandola
feien un jurament al redós del meu foc
I era com un miracle
que estirava les mans que eren balbes.

I en la boira es perdia el trepig.

Vosaltres no sabeu
                                què és
                                            guardar fustes al moll
Ni sabeu l'oració dels fanals dels vaixells
—que són de tants colors
com la mar sota el sol:
que no li calen veles.



NoturnoparaAcordeom NoturnoparaAcordeom NoturnoparaAcordeom


Noturno para Acordeom

                                                                                                            A Josep Aragay
Eis-me aqui: venho cuidando toras nos molhes.
(Vocês não sabem
                                 o que é
                                              cuidar toras nos molhes:
porém tenho visto a chuva
aos jarrões
sobre os botes
e debaixo dos tabuões se enrodilhar o preço da angústia
sob os pinhos-de-Flandres     
e os mirtos melis,
sob os cedros sagrados.

Quando os polícias espionavam a noite
e a roda do céu era um túnel que abre
sem luz nos vagões:
e fiz um fogo com ripas na goela do lobo.

Vocês não sabem
                               o que é
                                             cuidar toras nos molhes:
porém todas as mãos de todos os vagabundos
como em uma farândola
faziam um juramento ao calor do meu fogo
E era como um milagre
que estendia as mãos que estavam duras.

E na bruma se perdiam as pisadas.

Vocês não sabem
                               o que é
                                             cuidar toras nos molhes

Nem sabem a oração das lanternas dos barcos
—que são de tal colorido

qual o mar embaixo do sol:

que velas não neles
cabem.

Tradução Adrian'dos Delima





Notas da tradução:

"moll" significa "molhe", "cais" ou "porto"; é a origem da palavra "molhe em português". Inicialmente, usei "docas" na tradução. Porém, doca é um lugar fechado e abrigado, o que não parece mostrar a situação de "desabrigo" do poeta e seus achegados. A tradução mais exata seria "no cais". Mantivemos o cognato "molhe" em vez de "cais" por uma questão sonora.

"barrals" significa, literalmente, "cântaros", e então temos a expressão idêntica "chover aos cântaros". Porém, por uma questão de sonoridade, troquei cântaros por jarrões.

“flandes” significa a madeira do “pinho-de-flandres”, ou pinho-da-escócia, também conhecido como “pinho-de-riga”, ou à sua madeira, muito usada na construção civil e em marcenaria;

"mosso d'esquadra", espécie de polícia de fronteiras, portos e costas da Espanha na época, conhecida em castelhano como os "carabineros". 

“melis” pode referir-se a qualquer tipo de madeira de pinheiro, mais comumente do já citado “pinho –de-escócia”, ou à madeira de uma árvore chilena que se se chama “melí” em castelhano; optamos pela árvore chilena, de boa madeira, aparentada do mirto;  

“estelles”, que traduzo por “ripas”, significa, no texto original, pedaços de madeira, restos de madeira quebrados ou lascados, que o poeta usava para criar fogueiras;

“trinxeraire” é uma pessoa de vida vaga pelas ruas de uma cidade, sem emprego, pobre e desamparada, normalmente um jovem que é visto como um “pícaro”;

“farândola” é a dança de origem provençal, em que os pares, segurando-se pelas mãos, formam extensa fila que se movimenta de maneira agitada (Houaiss);

“balbe”:  adjetivo, com as mãos, pés, ou língua sem movimentos e, algumas vezes, amortecidos, pelo frio ou pelo medo. Traduzi  por “duras”, simplesmente, como dizemos no sul do Brasil “minhas mãos estão duras de frio”.





Mol de la Fusta, destino de barcos madeireiros, início dos 1970s.

Um comentário:

  1. Adriano, que maravilha! Parabéns, que lindo poema, e uma tradução que definitivamente dá barato!
    Abraço,
    Ricardo Portugal

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